domingo, 26 de junho de 2011

Qual Eric Clapton virá a Porto Alegre?



24 de junho de 2011 Categorias: Blues, jazz, rhythm&blues, soul e gospel, Pop, Rock and roll #

Lenda da guitarra também tocará no Rio e São Paulo. Blog destaca o possível setlist da nova vinda do músico inglês ao país

Tudo certo. Eric Clapton mais uma vez tocará em solo gaúcho. Daqui a pouco mais de quatro meses, o homem que já foi chamado de “Deus da Guitarra” se apresentará no estacionamento da Fiergs, em Porto Alegre. A venda de ingressos para show do músico inglês na capital começa dia 14 de julho. Aos 66 anos, EC já leva nas costas quase 50 anos de estrada, e certas vezes até acho que nosso herói parece cansado e entediado com seu trabalho. Talvez esteja mais focado em atividades filantrópicas, como no seu Crossroads Centre, em Antígua, um centro de recuperação e viciados em álcool e drogas. Há alguns meses ele lançou Clapton, álbum homônimo que incrusta a 19ª marca em sua irregular, mas inegavelmente bem sucedida discografia de estúdio. Esse último trabalho não passa de um CD mediano, se bem, que, acima da média dos últimos discos concebidos pelo veterano. Mas quem se importa com isso? Afinal, se formos enumerar os tiros que atingiram o centro do alvo em sua longa trajetória, aí é outra história. E, com méritos, ele faz parte da história do rock, do pop e do blues.


Os meus álbuns preferidos ainda são Layla and The Other Assorted Love Songs (1970), 461 Ocean Boulevard (1974) e o LP ao vivo gravado no Japão Just One Night (1980). Mas como não se render a bons álbuns como No Reason To Cry (1975), Slowhand (1977) e Backless (1978), ou inevitavelmente reconhecer os méritos do miscigenado pop-rock-blues Journeyman (1989). Acho que o disco que Clapton gravou sob encomenda para a MTV foi um tiro do pé do establishment, já que teoricamente naquela conjunção, havia sido formada grande parte dos ingredientes para que ele fizesse do seu Unppluged MTV (1992) um trabalho focado no pop. Isso se Clapton não tivesse virado o jogo ao flertar de forma lasciva, desavergonhada e promíscua com o blues, inaugurando uma tendência de registro ao vivo que virou moda da década de noventa. E esse caminho blueseiro buscou um território ainda mais apimentado no lamacento From The Craddle (1994), tributo do inglês aos seus heróis da música negra americana. Entretanto, entre erros e acertos, reuniões com velhos camaradas (Steve Winwood, B.B. King, J.J. Cale), tributos e celebrações (Bob Dylan, George Harrison), sabe qual é o grande mérito do artista? Ele nunca esqueceu suas origens musicais e a paixão pelo blues. Clapton pode estar fazendo música pop, aparentemente descartável, recauchutada, requentada, insossa e insalubre, mas quando esse Sir começa a solar sua Fender… Aí começamos a entender o espírito da coisa. Se existe um ‘branquelo’ que sabe fazer um som genuíno como os negões do EUA faziam e ainda fazem, esse cara é Eric Clapton. Vide o CD Me and Mr. Johnson e o DVD Sessions For Robert J. (2004/2005), projeto que assina essa opção do artista pelo blues, e, que também paga tributo ao ídolo maior do guitarrista.


E aí eu pergunto a você: qual Eric Clapton nós veremos na perna sul-americana do Tour 2011 do veterano? Se levarmos em conta as últimas apresentações em Londres no Royall Albert Hall (foram 11 shows em apenas 15 dias), dá pra ficar animado. Tomando por base o set da última noite (1° de julho), podemos perceber que há uma miscigenação e equilíbrio entre clássicos, standards blueseiros e temas recentes. Na banda que o acompanha, dois brilhantes tecladistas: o velho parceiro de outras jornadas, o inglês Chris Staiton (The Who, Brian Ferry, Joe Cocker) e o americano Tim Carmon (Stevie Wonder, Paul McCartney, Bob Dylan). Completam o time o baixista Willie Weeks (Gregg Allman, Buddy Guy, Robert Cray), o virtuoso baterista Steve Gadd (Paul Simon, George Benson, James Brown) e as backing vocals Michelle John e Sharon White.


Nos shows no Albert Hall o veterano começou com um velho cavalo de batalha de Big Bill Broonzy – Key to the highway, música que Clapton roubou do velho blueman faz tempo. Telling the Truth, e Hoochie Coochie Man, continuam trilhando o lado negro da força. Em Old Love o homem geralmente se solta no palco, e esse é um daqueles momentos em que se abre uma brecha para os improvisos da banda. Quando chega Driftin o show muda, fica mais intimista e acústico. Eu particularmente gosto quando Clapton troca sua Fender Stratocaster por um violão. Sentado, ele enfileira canções. Na versão de Driftin temos apenas violão, baixo e bateria. O restante da banda volta na balada arrasa-quarteirão Nobody Knows You When You’re Down And Out. A surpresa fica por conta da homenagem ao irlandês Gary Moore, guitarrista vinculado ao blues que morreu no início do ano. Clapton conduz o bluespop Still Got the Blues com dor e suspiros. Ele ainda toca Same Old Blues, de JJ Cale, e chega à balada When Someone Thinks You Are Wonderful, única música do novo disco no set. É uma boa escolha.


Layla começa de mansinho numa versão acústica quase sem batidas, suave, com arranjos inusitados, comprovando a habilidade de Clapton em reinventar mesmo o já reinventado. Layla foi composta há mais de 40 anos e fala sobre a paixão do guitarrista pela então mulher de George Harrison, Patti Boyd. Depois de um tempo, a ex-modelo trocou da cama de George para a de Eric, episódio que acabou abalando por certo tempo a camaradagem e a parceria entre ambos. Clapton foi casado com Patti por quase dez anos. A eletricidade volta ao palco em Badge, essa sim, uma parceria menos ácida com beatle George. A balada Wonderful Tonight é um daqueles sons que sempre passam pelo set do ‘slowhand’ (eu acho que já ‘tava na hora dele aposentar essa música!). E o melhor blues retorna com Before You Accuse Me. A já corriqueira Cocaine faz o papel de representante do rock arena. É uma música feita para as multidões, mesmo que tenha sido composta pelo brother J.J. Cale, um recluso convicto que até já morou em um trailer a beira do deserto de Mojave. É depois dela que os músicos deixam o palco.


Em alguns minutos o time completo retorna para o bis e finaliza os trabalhos com Crossroads, mais uma dos tempos lisérgicos do Cream, nos anos 60, e outra homenagem ao ídolo Robert Johnson. Saldo final: duas horas de espetáculo e 17 músicas. Depois desse último show no Royal Albert Hall, Clapton para por quatro meses e só volta aos palcos no show de Porto Alegre no dia sete, para então, só sair da estrada dois meses depois, em sete de dezembro, quando toca no mítico Budokan, mesmo local da capital japonesa onde registrou o álbum Just One Night, em 1980. Eis um desenho interessante de set list, e é bem provável que seja semelhante ao que veremos por aqui. Estamos a espera do homem. Em 1990 e 2001, as duas outras vezes que Mr. Clapton tocou em Porto Alegre eu não fui. Um homem não pode cometer o mesmo erro três vezes.


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quinta-feira, 9 de junho de 2011






Como sempre, nada era ou poderia ser planejado. Nem aquela tarde de uma sexta-feira parisiense, sentado no Café de Flore, tampouco o chocolate quente consumido naquele lugar, o preferido de Pam, o meu “amor cósmico” Pamela Courson. Muito menos que logo seria noite, a minha última noite. Pouco depois estava eu ali, olhando para o meu corpo inerte na banheira branca do nosso pequeno, mas confortável apartamento no terceiro andar do número 17 da Rue Beautreilles. Não conseguia me mexer. Mirei mais uma vez meus cabelos desgrenhados e os olhos acinzentados, sempre meio perdidos. Pensei em como toda a minha aura de símbolo sexual, de rock star ácido e messias de uma geração ávida por liberdade tinha terminado seus dias ali, em uma calma manhã de sábado. Era 3 de julho de 1971.



Do que morri? Dizem de tudo, e me divirto com as mais absurdas hipóteses a ponto de não querer confessar a verdade nem desmentir os boatos. Talvez tivesse, sim, ido ao cinema na noite anterior e, ao voltar para casa, senti o intensificar das dores no peito, rotineiras havia alguns dias, sinal da parada cardíaca que me derrubaria em poucas horas. Mas esqueça o cinema. Se eu tivesse de desvendar a minha própria morte, apostaria muito mais no Rock and Roll Circus. O bar onde, naquela noite, me abasteci de muita vodka e cerveja. Meu erro grotesco foi confundir as substâncias e, em vez de consumir a cocaína habitual, ter ingerido a dose cavalar de heroína comprada para Pam; o que me deixou ali em coma, no banheiro. Desesperados, os traficantes e Sam Bernett, o gerente do local, carregaram meu corpo para o apartamento e o jogaram na banheira na tentativa de me reanimar; mas, como se sabe, sem surtir efeito.



Uma conclusão estranha para a mais estranha das vidas, como gosto de dizer. Por outro lado, 40 anos depois, ainda sou uma pessoa inteligente, sensível, com a alma de palhaço. Mas não tenho mais a energia dos 27 anos de idade, que me impeliu a jogar tudo pelos ares. A maturidade enfim chegou. Lamento as noites perdidas e os anos perdidos, mas, depois daqueles quatro anos de sucesso, loucuras, agentes, empresários e advogados, confesso que minha cabeça entrou em parafuso e não havia nada a fazer a não ser mandar tudo à merda.



Por outro lado, consigo hoje ter uma visão mais clara e ampla da existência. Já falo com tranquilidade sobre detalhes de infância ou família. Aliás, se ainda interessa, nasci em uma quarta-feira, 8 de dezembro de 1943, na cidade de Melbourne, na Flórida. Era filho de Clara Clarke e de George Stephen Morrison. Tá certo: diria em uma entrevista anos mais tarde que os dois estavam mortos. Mas essa foi uma das maneiras de incitar a rebeldia contra a ordem e a educação recebida, orientada a impor o american way of life. Também posso entender agora que meu pai, um almirante da marinha, não era de uma geração preparada para ter um filho astro do rock, e ainda com o apelido de rei lagarto. Mas são coisas que só compreendemos depois.



Fico satisfeito, assim, por ter me desvencilhado daquela imagem criada em torno de mim e com a qual colaborei – de modo inconsciente ou bem consciente. Desde a adolescência e dos tempos no George Washington High School, e mais tarde na escola de cinema da Universidade da Califórnia (Ucla), mergulhei em O nascimento da tragédia, de Nietzsche, consumi William Blake, Rimbaud e, assim como todos eles, construí minhas próprias máscaras. Às vezes penso: fui longe demais! Sentia as pessoas projetando em mim suas fantasias para se tornarem reais e obedecia aos impulsos.



Mas, longe da imagem do bêbado, ou do louco vestido com a calça de couro preta, fui, do meu jeito, um cara comum, carinhoso e gentil. Uma vez ou outra, especialmente quando estou entediado, deixo minha mente vagar de volta a alguns episódios. Eles trazem a certeza de algo que sempre fui: tímido, inseguro e possessivo.


Quando eu já vivia na Califórnia, em 1965, e namorava Mary Werbelow, o meu primeiro grande amor – e o maior, como tenho certeza às vezes –, precisava ligar para ela todos os dias. O excesso de atenção era, nesse caso, uma necessidade de ter certeza de que o amor dela permanecia igual por mim. Mas essa insegurança também me levou a brigas imaturas, a traições de minha parte e ao fim. Mas não posso reclamar. Para ela, fiz os versos eternizados com os Doors: Bela amiga / Este é o fim / Minha única amiga, o fim / Dos nossos elaborados planos, o fim / De tudo o que está de pé, o fim / Sem segurança ou surpresa, o fim / Nunca mais olharei em seus olhos... de novo.



No verão desse mesmo ano, quando perambulava pela praia de Venice, reencontrei Ray Manzarek. Após ouvir um dos meus poemas, ele disparou: “Vamos formar uma banda”. Tentei explicar que era tímido e que minha voz não era das melhores. Mas fui convencido com um argumento medíocre, explicitando o fato de Bob Dylan ter conseguido também sem ter a melhor das vozes.



Abrimos as portas sugeridas por Blake, levamos o The Doors por todo o país e pela Europa, ganhei muito dinheiro, prestígio; embarquei em profundas viagens lisérgicas, vivi com Pamela, a amei e também a odiei. Fui preso, acusado de profanação pública e de exibir meus órgãos sexuais durante o show. Definitivamente, me irritei com tudo, especialmente com a América daquele período. Queriam me condenar não por um ato em si, mas pelo meu estilo de vida. Infelizmente, todos se concentraram demasiadamente nos meus genitais e esqueceram o resto. Além de ser um jovem saudável, com braços, pernas, tórax, olhos e nariz, tinha também um cérebro.



Repetindo: ainda é difícil me decifrar, e nem pretendo mais. Tenho 67 anos e pouca paciência para acompanhar as incessantes peregrinações feitas todos os dias ao meu túmulo no Père-Lachaise. Às vezes, aproveito para tomar um pouco do vinho deixado lá pelos fãs. Bom pretexto para dar umas risadas e oferecer uma taça à Janis ou ao Hendrix nas poucas visitas feitas. Além disso, o espírito de um xamã que invadiu a minha alma, fazendo companhia desde os meus 5 anos de idade, quando assisti a um acidente na estrada com um comboio carregado de índios, já partiu há longo tempo. O alcoolismo e o abuso de drogas é um pormenor. Queria mesmo era ser reconhecido por ter sensibilidade, inteligência e senso de humor. Claro, não posso negar: passei ótimos momentos e, durante os anos à frente do Doors, conheci mais gente interessante do que durante todo o resto da existência. Mas, se pudesse recomeçar, procuraria vivenciar a quietude do pequeno e inalterado artista, caminhando pelo seu estreito caminho. Afinal, um homem está à porta. Boa sorte, e não se metam em problemas.



LIGHT MY FIRE
James Douglas Morrison, ou Jim Morrison, lançou, em vida, com o The Doors, seis álbuns – The Doors, Strange Days, Waiting for the Sun, The Soft Parade, Morrison Hotel e L.A. Woman –, emplacando sucessos como Light My Fire, The End, Roadhouse Blues, Riders on the Storm, entre muitos outros. Publicou em vida quatro livros de poemas – com destaque para Uma oração americana – e gravou muitas horas de poesias em estúdio. Parte deste material se transformou postumamente no álbum An American Prayer, musicado pelos companheiros de banda Ray Manzarek, Robbie Krieger e John Densmore. Morreu em Paris, em 3 de julho de 1971, aos 27 anos, de ataque cardíaco, segundo o contestado atestado de óbito. Jim Morrison foi enterrado em Paris, e ninguém viu o corpo com exceção de Pamela Susan Courson, que morreu de overdose de heroína três anos depois, em 1974, nos EUA.



Este artigo se utiliza de fatos reais e pesquisa, incluindo biografias, vídeos, poemas e inúmeros trechos de entrevistas concedidas por Jim ao longo da carreira

Artigo retirado do site www.revistadacultura.com.br

According To The Rolling Stones, a biografia definitiva dos Stones

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